Até quando vai ser possível suportar, viver num mundo virtual quando os sentimentos são reais? Esse mundo que transforma nosso pensar, esse mundo que se desfaz do nosso desejar. Um mundo criado por nós mesmos e ao mesmo tempo tão diferente do que gostaríamos que fosse?
Será que fizemos as escolhas certas? Ou será que o mundo tomou essas decisões por nós. Com certeza nos deixamos levar, ou quem é que escolheria ir pelo caminho mais difícil? Seria muito mais fácil fazermos e sentirmos apenas aquilo que desejamos, sem ter que aceitar que horas perdemos ou deixamos de ter. Abrimos mão dos nossos sonhos.
Por tanto tempo fomos carregados pelo impulso que rege a vida, o caos, a fúria, o conflito. A difícil escolha entre sermos ou não sermos, vivermos ou nos deixarmos viver, esperar ou ir buscar. No virtual o mundo é quem rege a minha sociedade, a sociedade são as minhas escolhas, as minhas escolhas são as escolhas do outro, e o outro são os meu desejos.
Até quando vou viver neste mundo virtual? Isso, só o outro poderá definir. Apesar de não saber, poderei saber quando estiver por vir. Saberei apenas que estarei pronto, e que um passo para trás será impossível.
Pois da mesma forma que as palavras ditas já não podem ser apagadas da memória, as marcas de cada passo adiante definem um único caminho, onde nenhum outro pode trilhar, nem eu mesmo.
É simplesmente o princípio do prazer que traça o programa do objectivo da vida. Este princípio domina a operação do aparelho mental desde o princípio; não pode haver dúvida quanto à sua eficiência, e no entanto o seu programa está em conflito com o mundo inteiro, tanto com o macrocosmo como com o microcosmo. Não pode simplesmente ser executado porque toda a constituição das coisas está contra ele; poderíamos dizer que a intenção de que o homem fosse feliz não estava incluída no esquema da Criação. Aquilo a que se chama felicidade no seu sentido mais restrito vem da satisfação — frequentemente instantânea — de necessidades reprimidas que atingiram uma grande intensidade, e que pela sua natureza só podem ser uma experiência transitória. Quando uma condição desejada pelo princípio do prazer é protelada, tem como resultado uma sensação de consolo moderado; somos constituídos de tal forma que conseguirmos ter prazer intenso em contrastes, e muito menos nos próprios estados intensos. As nossas possibilidades de felicidade são assim limitadas desde o princípio pela nossa formação. É muito mais fácil ser infeliz.